A Grande Guerra
Inverno de 50 D.C. Já se passou meio século desde o início da guerra, e ela não demonstra sinais de desgaste. O povo de Dowth vem invadindo pelas colinas geladas, e nosso exército está quase que completamente dizimado. O jeito é fugir. E, enquanto fugimos, destruímos a terra por onde passamos, para não deixar recursos e suprimentos ao inimigo. Engenhosa estratégia, formulada pelo célebre General Connor.
Tivemos muitas baixas durante o último mês, e o inverno está pior do que nunca. Bem, pior para o povo de Dowth, que não está acostumado. Nós até que estamos conseguindo nos virar, e as mais esperançosas línguas sonham com a nossa retomada na Guerra. Não duvido nada, depois de tantos altos e baixos nesse meio século.
O que mais me preocupa é a extensão da guerra. Dizem que as crianças de hoje em dia já nascem e são mandadas para o campo de batalha, na falta de soldados devidamente treinados. Já não há mais magos elementares suficientes, e não há como os remanescentes passarem seus ensinamentos adiante, porque fariam falta no decorrer da guerra. Nunca antes o desejo de paz fora tão forte. Mas, nas palavras de Connor: “ É com a guerra que se faz paz”.
A tropa acabara de ver um súbito clarão vindo do norte. Um clarão quase que surreal, e parecia bastante distante. Estão falando que é algum deus; mas, sabe, nessa altura da guerra eu já nem mais acredito em um deus. Não depois de passar por tudo que passei, mesmo sendo um mero escriba.
Vou continuar aqui, até sabe-se lá quando. Não consigo lembrar-me do cheiro de minha mulher, nem mesmo da sensação de tocá-la. Aliás, não sei ao menos se está viva.
Espero que esteja.
- Reprodução de um documento histórico oficial da Biblioteca de Croghan.